terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Capitulo 2 -Volta às aulas

 

   O dia amanheceu bem mais rápido do que Guilherme poderia prever. Ainda se sentia exausto quando o despertador o levantou da cama. Ainda cansado, arrastou passos até o banheiro e lavou o rosto. Vamos, sono... Você precisa sair de mim...
   -Bom dia!- Entrou seu pai, abrindo o armário e pegando suas coisas. –Animado para o primeiro dia de aula? –
   Guilherme não entendeu praticamente nada. “Dia... Aula...” O sono era tanto que não podia distinguir palavras. A única coisa da qual Guilherme tinha certeza era de que precisava comer, pois estava faminto.
   Depois de tomar uma chuveirada que o deixou mais disposto, ele se dirigiu à cozinha, onde estava sua mãe.
-Bom-dia, querido. – Ela disse, enquanto continuava a fritar os ovos para a familia.
-Como você me viu? – Perguntou Guilherme, surpreso. Tinha certeza de que ela estava de costas quando chegara.
-Coisa de mãe- Disse ela com um sorriso. Provavelmente se sentia orgulhosa de dizer aquelas palavras.
   Sua mãe e seu pai –Julia e Henrique Albuquerque- eram de uma familia tranquila. O clima simples e pacifico era mantido à risca naquela casa. Os avós de Guilherme -tanto maternos quanto paternos- cresceram em uma pequena cidade no interior de São Paulo chamada Araçatuba. Eram fazendeiros, e como tal, tinham grande tradição familiar.
 -Está pronto, queridos! – Com um estalido, Julia tirou o último ovo da frigideira e o colocou numa bandeja junto ao restante da refeição. Guilherme sabia que atrás dele seu pai deveria estar levantando do sofá.
   A cozinha é de aparência simples, tradicional. Um clima antigo intencional foi feito nessa parte da casa. As paredes de madeira escura completam a imagem de família do interior juntamente com o pano vermelho e quadriculado da mesa.
-É isso aí, hora do rango!- Guilherme sentiu seu pai lhe dar um tapinha nas costas, carinhosamente.
-Animado para o primeiro dia de aula, filhão? – Perguntou Henrique, enquanto dava uma bela mordida no seu pão com ovo.
-Eu já falei várias vezes, pai... Ninguém fica animado com o primeiro dia de aula... – Apesar de falar com tanta convicção, Guilherme sabia que não era de inteiro verdade: Estava louco para rever seus amigos, principalmente Bárbara, que além de tudo era bonita.

-Tchau pai, tchau mãe! – Ele gritava enquanto se afastava pela rua, com a mochila pendurada em apenas um dos ombros, como era de seu costume.
   Guilherme ía se afastando de casa em direção à escola que ficava há poucas ruas de distância. Ele andava distraidamente, a imagem de Barbara balançando seus longos cabelos castanhos insistia em ficar na sua mente.
   De repente, ele ouve um som alto como de uma batida seca. Por susto, ele se vira rapidamente, mas não avista nada de diferente. Não deve ser nada importante, eu vejo na volta, pensou Guilherme.
[...]
-Oi! – Disse Laura, correndo em sua direção. Guilherme não hesitou em dar um abraço bem forte na amiga de infância. Tinha cabelos loiros estilo channel e lindos olhos verdes. Sua pele branca era pintada charmosamente com sardas.

-Pára de olhar para elas! Eu fico sem graça! – Ela reclamou.
-Pára você com isso, eu já disse que acho essas pintas uma graça. –
-Não são pintas, são...

-Ei, vamos entrar? – Chamou a coodenadora. Era baixinha e possuia uma pele pálida e enrugada - Já basta ter de acordar às cinco da manhã, eu não preciso ficar ouvindo lero-lero de pirralho.
  
   Já acostumados com o mau-humor de Fátima, eles entraram ainda sorridentes e foram para seus lugares.

-Bom-dia – Saudou uma voz rouca que poucos reconheceram. Percebia-se nesses alunos um profundo ar de desaprovação. –Não é porque hoje é o primeiro dia que não terá aula. Vamos começar para valer porque a matéria... – O homem era alto, careca e usava óculos redondos. Andava impacientemente de um lado para o outro na sala enquanto falava.

-Não é o professor Alencar? – Interrompeu Laura. –Ele não era só para o primeiro ano do ensino médio? – Dizia ela, quase sussurrando a seus amigos.
-Não é possível. Ou é muito azar ou é algum tipo de conspiração contra a gente. – Falava Ronaldo- outro amigo de Guilherme-, enquanto se sentava. Tinha curtos cabelos ruivos e olhos castanhos. - Eu não acho possível que a diretora tenha...
-Silêncio! –Alencar bateu com sua mão estendida na mesa de Guilherme, que estava entre Laura e o Ronaldo.
   Após essa experiencia desagradável, os três seguiram calados durante o resto da aula. Esperavam ansiosamente pelo intervalo, a fome começava a bater forte em Guilherme.
-Como eu ía dizendo... – Continuava o professor, após ser interrompido pela décima ou décima primeira vez por um de seus alunos. O conceito de Ciências esse ano também englobará... – Ele olha para cima: O sinal está tocando. –Física e química. Agora vão, estão dispensados. –
[...]
-Você viu a cara dele? Parecia que o cara tava sem dormir a um mês! – Dizia Ronaldo, incorfomado de ter sido repreendido na frente de seus colegas. Os três estavam no espaço aberto da escola, sentados próximos a uma árvore. Guilherme, que saboreava seu sanduíche de mortadela com vontade, sequer se esforçou para responder-Apenas sacudiu a cabeça positivamente –
-Guilherme, Guilherme! – Chegava Laura, após uma longa conversa com suas amigas. –Você não vai acreditar: A Bárbara também gosta de você!
-Falle rais bairro! – Apressou-se em responder, ainda engolindo o último pedaço de seu lanche. – Eu não quero que a escola inteira saiba disso... Como é? Ela gosta de mim? – Falou, num tom mais calmo.
-Exatamente. Eu estava falando com a Gabriela, você sabe que elas duas são muito coladas, e foi ela que me falou isso! – Laura estava quase tão contente quanto Guilherme. Na realidade, até mais que ele. O garoto nervoso demais para conseguir sentir a felicidade.
-Então... Ok. Vou voltar para a sala, depois a gente vê isso. – Ele se retirou do local, sentindo o olhar desapontado de seus amigos perfurando-lhe as costas.
   Não demorou muito para o intervalo acabar de vez, com o sino agudo tocando novamente. O restante da manhã seguiu como de costume. Como o terceiro tempo de aula era de história, todos ficaram mais à vontade. Guilherme evitou ao máximo papear com seus colegas: Ele ainda precisava pensar na situação e planejar o que faria.
[...]
   A aula acaba. Com uma breve despedida, Guilherme se apressa para não dar chances de uma conversa engatar. Sai andando pela rua em direção a sua casa, torcendo para que ninguém chame por ele. E quando já está quase desaparecendo na esquina, eis que uma voz grita da escadaria do colégio. Guilherme não se vira, finge que não ouviu.
   Depois de caminhar calmamente por mais da metade do caminho para casa, ele tem certeza de que a tal pessoa não veio atrás dele. Já mais calmo, ele diminui o ritmo da passada, pois é difícil andar velozmente no clima quente de Brasilia, ainda mais quando se faz isso uma e meia da tarde.
   Enquanto enxuga o suor que insiste em pingar de sua testa, ele nota um agrupamento de pessoas próximas de um beco. São dezenas de cidadãos comuns, que aparentemente observam alguma coisa no chão. Como a curiosidade era maior que o medo, Guilherme não hesitou em ir investigar.
-Com licença, com licença. – Ele ía se esticando por entre as pessoas.
   Faz um último esforço para conseguir ver o que é, e então pára horrorizado. Guilherme não tem palavras. Seus olhos mostram o panico e nojo que ele sente ao mesmo tempo.
   No chão, um corpo mutilado jaz ao fim de uma trilha de sangue que marca o meio da rua. O cadaver só foi parar ao bater no muro de tijolos do beco sem saída. Guilherme sente que um sorriso irônico quer lhe invadir o rosto.
-Então era esse o barulho de hoje cedo. -


Um comentário:

  1. *o* vc escreve muito bem Matheus!

    Gogogo fazer os próximos capítulos que a coisa ta ficando boaa!!! :D

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